Este é um fragmento do primeiro
capítulo de Através do espelho, obra de Lewis
Carroll, que dá continuação a Alice
no país das Maravilhas. Em seguida ao texto,
reproduzimos duas ilustrações
originais desse capítulo.
No fragmento, Alice brinca e conversa com sua gatinha Kitty, filha de
Dinah.
Como Kitty não conseguia imitar a
pose da Rainha Vermelha (peça do jogo de xadrez), a menina resolve lhe contar
suas ideias a respeito da Casa do Espelho.
Através do espelho
Lewis Carroll
1 “Vamos fazer de conta que você é a Rainha Vermelha,
Kitty! Sabe, acho que se
você sentasse e cruzasse os braços ficaria igualzinha a ela. Vamos,
tente, minha fofura!” E Alice pegou a Rainha Vermelha da mesa e a pôs em frente
à gatinha como um modelo. Porém a coisa não deu certo — sobretudo, Alice disse,
porque a gatinha não cruzava os braços direito. Assim, para puni-la, segurou-a
diante do Espelho, para que visse o quanto estava intratável... “e se não
consertar essa cara já”, acrescentou, “eu lhe faço atravessar para a Casa do Espelho.
O que acha disso?”
2 “Bem, se você ficar só ouvindo, sem falar tanto, vou lhe contar todas as
minhas ideias sobre a Casa do Espelho. Primeiro, há a sala que você pode ver
através do espelho, só que as coisas trocam de lado. Posso ver a sala toda
quando subo numa
cadeira... fora o pedacinho atrás da lareira. Oh! Gostaria tanto de ver
esse pedacinho! Gostaria tanto de ver se eles têm um fogo aceso no inverno: a
gente nunca pode saber, a menos que o nosso fogo lance fumaça, e a fumaça
chegue a essa sala também... mas pode ser só fingimento, só para dar a
impressão de que têm um fogo. Agora, os livros são mais ou menos como os
nossos, só que as palavras estão ao contrário; sei porque segurei um dos nossos
livros diante do espelho e eles seguraram um na outra sala”.
3 “O que você acharia de morar na Casa do Espelho,
Kitty? Será que lhe dariam
leite lá? Talvez o leite do Espelho não seja gostoso... mas, oh, Kitty!
Agora chegamos ao corredor. Só se consegue dar uma espiadinha no corredor da
Casa do Espelho deixando a porta da nossa sala de estar escancarada: é muito
parecido com o nosso corredor, até onde se pode ver, só que adiante pode ser
completamente diferente. Oh, Kitty, como seria bom se pudéssemos atravessar
para a Casa do Espelho! Tenho certeza de que nela, oh! há tantas coisas
bonitas! Vamos fazer de conta que é possível atravessar para lá de alguma
maneira, Kitty. Vamos fazer de conta que o espelho ficou todo macio, como gaze,
para podermos atravessá-lo. Ora veja, ele está virando uma espécie de bruma
agora, está sim! Vai ser bem fácil atravessar...” Estava de pé sobre o console
da lareira enquanto dizia isso, embora não tivesse a menor ideia de como fora
parar lá. E sem dúvida o espelho estava começando a se desfazer lentamente,
como se fosse uma névoa prateada e luminosa.
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