Leia o texto abaixo:
[...]
como o vestido dificultava seus movimentos
e como ela queria ser totalmente um dos Capitães da Areia, o trocou por
umas calças que deram a Barandão numa casa da cidade alta. As calças tinham
ficado enormes para o negrinho, ele então as ofereceu a Dora. Assim mesmo,
estavam grandes para ela, teve que as cortar nas pernas para que dessem.
Amarrou com cordão, seguindo o exemplo de todos, o vestido servia de blusa. Se
não fosse a cabeleira loira e os seios nascentes, todos a poderiam tomar por um
dos Capitães da Areia.
No dia em
que Dora, vestida como um garoto, apareceu na frente de Pedro Bala, o menino
começou a rir. Chegou a se enrolar no chão de tanto rir. Por fim conseguiu
dizer:
— Tu tá
gozada...
Ela ficou
triste, Pedro Bala parou de rir.
— Não tá
direito que vocês me dê de comer todo dia . Agora eu tomo parte no que vocês
fizer.
O
assombro dele não teve limites:
— Tu quer
dizer...
Ela o
olhava calma , esperando que ele concluísse a frase.
— ... que
vai andar com a gente pela rua, batendo
coisas...
— Isso
mesmo. — Sua voz estava cheia de resolução.
— Tu
endoidou, Dora...
— Não sei
por quê.
— Tu não
ta vendo que tu não pode? Que isso não é coisa pra menina? Isso é coisa pra
homem.
— Como se
vocês fosse tudo um homão. É tudo um menino.
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