O fantasma
A televisão
não tinha chegado até a fazenda porque a energia era insuficiente. À noite, as
mulheres distraíam ouvindo rádio de pilha enquanto
costuravam.Os homens gostavam de se
reunir para conversar. O ponto escolhido foi o terreiro de
café que ficava perto da casa do
administrador.
Nessa noite,
falavam de fantasmas. Cada um tinha uma história; contar o que ouvira, ou
uma experiência pessoal
que infelizmente (ou felizmente) não provava nada.
— Eu me
lembro de um caso interessante __disse Vicentino.
Os ouvintes
se aproximaram mais dele.
Por que será
que gostamos de ficar bem juntinhos quando ouvimos histórias de
fantasmas? Para melhor ouvir? Ou porque sentimos mais
seguros estando bem perto uns dos
outros?
— Eu morava
num sobrado na cidade, e todas as noites acordava com um barulho de
correntes que se arrastavam no andar de cima.Nada de gemidos
ou gritos, nem uma palavra.
Só aquela corrente que se arrastava para cá e para lá. Um
mistério! Era tão impressionante que eu acordava e não conseguia mais dormir.Depois
de uma semana eu criei coragem, pensei comigo: tenho que dar um jeito nesse
danado. Arranjei um pedaço de pau, nem sei porquê, pois sabia que com fantasma
não adianta usar um pedaço de pau! Assim que
o barulho começou, subi devagarinho! Quando eu andava, o barulho
cessava. Quando eu parava, ouvia a corrente se arrastando. Ele devia estar bem perto porque percebia que
ia chegando gente. Abri num arranco a
porta, entrei depressa e dei um grito para ver se o fantasma se assustava
comigo.
Sabem que deu certo? Ouvi uma voz rouca e assustadora: roc, rooc, roooc... Se eu não
estivesse tão apavorado teria rido a valer. Bem no meio do quarto, todo arrepiado e trêmulo,
estava ... um papagaio! O bichinho escapava do poleiro todas
as noites e "assombrava" a gente
passeando de um lado para outro com uma corrente presa na perninha.
Os meninos riram aliviados! Essa foi a história do fantasma
assustador.
Maria Teresa Guimarães Noronha
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