MODOS DE DIZER
(Mário
Bachelet. Antologia Portuguesa. FTD, São Paulo, 1965)
Uma vez um rei sonhou
que todos os seus dentes lhe foram caindo da boca, um após outro, até não
ficar nenhum. Era no tempo em que havia magos e adivinhos. O rei mandou chamar
um deles, referiu-lhe o sonho e pediu-lhe que o decifrasse. O adivinho levou a
mão à testa, pensou, pensou, consultou a sua ciência e disse:— Saiba Vossa Majestade que a significação do seu sonho é a seguinte: está para lhe suceder uma grande infelicidade. Todos os seus parentes, a rainha, os seus filhos, netos, irmãos, todos vão morrer sem ficar um só ante os olhos de Vossa Majestade.
O rei entrou em cólera, ficou muito irritado e, chamando os guardas do palácio, mandou decepar a cabeça do adivinho que lhe profetizara coisas tão tristes.
Estava o rei muito acabrunhado com o vaticínio, quando se aproximou um cortesão e lhe aconselhou que consultasse outro adivinho, porque a interpretação do primeiro podia estar errada e não devia Sua Majestade se afligir em vão.
O rei adotou o conselho, mandou chamar outro mago e lhe narrou o mesmo sonho, pedindo que o decifrasse.
O adivinho levou a mão à testa, pensou, pensou, consultou a sua ciência e disse:
— Saiba Vossa Majestade que o seu sonho significa o seguinte: Vossa Majestade terá muitos anos de vida. Nenhum dos seus parentes lhe sobreviverá. Nem mesmo o mais moço e mais forte deles terá o desgosto de chorar a perda de Vossa Majestade.
O rei, muito satisfeito, mandou encher o adivinho de presentes, deu-lhe muitas moedas de ouro, muitos diamantes, roupas de seda bordadas e um palácio para morar, nomeando-o adivinho oficial do reino.
No entanto, o segundo mago, que recebeu tais prêmios, disse a mesma coisa que o primeiro, que foi degolado. A única diferença foi a linguagem que ele empregou. Esta fez que ele recebesse prêmio em vez de castigo.
O rondó dos cavalinhos
Manuel Bandeira
Os
cavalinhos correndo,
E
nós, cavalões, comendo...
Tua
beleza, Esmeralda,
Acabou
me enlouquecendo.
Os
cavalinhos correndo,
E
nós, cavalões, comendo...
O
sol tão claro lá fora,
E
em minh’alma – anoitecendo!
Os
cavalinhos correndo,
E
nós cavalões, comendo...
Alfonso
Reyes partindo,
E
tanta gente ficando...
Os
cavalinhos correndo,
E
nós, cavalões, comendo...
A
Itália falando grosso,
A
Europa se avacalhando...
Os
cavalinhos correndo,
E
nós, cavalões, comendo...
O
Brasil politicando,
Nossa!
A poesia morrendo...
O
sol tão claro lá fora,
O
sol tão claro, Esmeralda,
E
em minh’alma – anoitecendo!
Fonte: BANDEIRA,
Manuel. O rondó dos cavalinhos. In: CANDIDO, Antonio. Na sala de aula. 5.ed.
São Paulo: Ática, 1995.
Menino de 11 anos morde
pit bull para se defender de ataque em Minas Gerais
RENATA BAPTISTA
Um menino de 11 anos mordeu um cão pit bull e se livrou do ataque do
animal em Sabará ( região metropolitana
de Belo Horizonte)
Gabriel Alexandre da Silva estava em
casa na tarde de anteontem quando foi atacado pelo cão da família, Titã.
De
acordo com a avó do garoto, Arlinda Francisca de Almeida, Gabriel só conseguiu
se desvencilhar do animal, que estava preso, ao segurar o cão pelo pescoço e
mordê-lo. Gabriel quebrou um dente durante a mordida.
O
garoto saiu do jardim pulando o muro da casa. Enquanto isso, funcionários de
uma obra ao lado batiam em um portão para tentar atrair o pit bull. Bombeiros
recolheram o animal.
O
menino foi levado ao pronto-socorro e precisou levar quatro pontos no braço
direito. "Ele foi um vencedor", disse a avó.
Ela
disse que o cachorro, que vive com a família desde filhote, era "manso e
meigo" e nunca havia atacado ninguém. "Mas, na verdade, a gente nunca
confiou muito nele. As crianças não brincavam muito com o cachorro, mas o Titã
sempre estava por perto."
O
cachorro foi levado ao centro de controle de zoonoses, onde deve ficar em
observação por pelo menos dez dias. Após esse período, os donos poderão pegar o
cachorro de volta. Caso não haja interesse, o pit bull deverá ser sacrificado.
"Não
queremos mais ele, não. O Gabriel tem duas primas, de seis e de dois anos. Se
[o Titã] fez isso uma vez, pode fazer de novo", disse a avó do garoto
ferido.
Fonte: BAPTISTA,
Renata. Menino de 11 anos morde pit bull... Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2407200812.htm>.
Acesso em: 24 jul. 2008.